Brasil
Dilma diz que estava certa sobre “estocar vento” e culpa imprensa por não entender

Durante um evento com jornalistas no Rio de Janeiro neste sábado, 5 de julho, a ex-presidente Dilma Rousseff voltou a comentar sua polêmica declaração de 2015 sobre a necessidade de “estocar vento”. A frase, que se tornou um dos maiores símbolos do despreparo de sua gestão, agora é apresentada como uma visão incompreendida.
Atualmente presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, Dilma afirmou que foi vítima de má interpretação e responsabilizou a imprensa brasileira pela repercussão negativa.
“No passado, lembro que disse que tinha que armazenar vento e sol. Toda a imprensa brasileira achou que isso era uma ignorância. Pois muito bem. Saibam que essa é uma das áreas mais importantes para resolver problemas como o que ocorreu em Portugal e na Espanha”, declarou.
A fala ocorreu durante a 10ª reunião anual do NDB. Dilma usou o apagão registrado em abril na Espanha e em Portugal como justificativa para reforçar a importância de tecnologias de armazenamento de energia renovável. Segundo ela, a falha no sistema europeu mostra como é urgente desenvolver maneiras de estabilizar o fornecimento de energia quando há variações nas fontes eólica e solar.
Tentativa de reescrever a história
Dilma argumentou que, em 2015, sua intenção era destacar a necessidade de desenvolver tecnologias para armazenar energia intermitente, mas que foi mal compreendida. A nova explicação surge quase dez anos depois do episódio, sem qualquer autocrítica ou reconhecimento de sua falha na comunicação.
Na época, a frase dita de forma vaga e sem embasamento técnico virou meme e motivo de piada até mesmo entre aliados. O problema nunca foi o tema, mas a maneira confusa com que foi tratado. Agora, Dilma tenta transformar o erro em acerto e se apresentar como uma pioneira injustiçada.
Energia renovável e retórica reciclada
Durante a entrevista, Dilma também falou sobre a importância da modernização dos grids, os sistemas que armazenam e distribuem energia renovável. Segundo ela, essas soluções serão fundamentais para equilibrar oferta e demanda em tempos de transição energética.
“Uma das áreas mais importantes é como armazenar energia eólica e energia solar e como estabilizar quando entra no grid”, afirmou.
Apesar do conteúdo mais técnico, a ex-presidente voltou a adotar um tom de autodefesa, como se o problema estivesse sempre na interpretação alheia, nunca em sua forma de se expressar.
Quando o vento vira narrativa
A tentativa de Dilma de transformar um vexame em virtude revela um padrão recorrente. O fracasso nunca é assumido. O erro nunca é reconhecido. A culpa é sempre da imprensa, do público, da oposição, da história.
O episódio de 2015 entrou para o imaginário popular como um símbolo da confusão que marcou o segundo mandato de Dilma Rousseff. Hoje, ao tentar reescrevê-lo como se fosse uma genialidade incompreendida, ela apenas reforça o que o Brasil já entendeu.
Não foi o povo que não entendeu a Dilma. Foi a Dilma que nunca entendeu o Brasil.
