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Piauí

SUZANO NO PIAUÍ – Um Sonho Que Ficou No Papel

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Muitas vezes, quando a esmola é grande demais, o santo desconfia. Algumas vezes elas são muito boas, mas não ao ponto de se prever um futuro catastrófico. Em conversa durante nossas entrevistas, o empresário Tiago Junqueira nos falou do sentimento que sentiu à época:

“Eles chegaram aqui com uma proposta de negócio fechado, com um plano ambiental bonito e até um caminho financeiro para empréstimo, era tudo muito perfeito e organizado.”

Só que o sonho perfeito, tornou-se um pesadelo eivado de prejuízos.

A HISTÓRIA

Em 2008, a empresa Suzano Papel e Celulose começou um projeto de expansão e investimento na área ambiental, orçado em R$ 6 bilhões, que seria feito até o ano de 2018. O projeto referia-se a 3 novas fábricas que, junto com a que já havia sido instalada na Bahia, aumentaria a produção de matéria-prima para empresa. A meta, segundo a empresa, seria a produção de 1,3 toneladas de matéria-prima em cada fábrica. Em 2009, as fábricas foram confirmadas, uma delas no Piauí e, em 3 de Setembro de 2010, já havia local para instalação, o Sítio Veneza, na cidade de Palmeirais – PI. O governador da época, Wellington Dias (PT), alardeava o grande projeto de investimento que viria ao estado nos auspícios de seu governo.

Em 2012 a empresa já havia ganho a licença prévia da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos para sua instalação, ainda na época da pasta gerida por Dalton Melo Macambira, e agora, o governador era Wilson Martins. Se passavam 4 anos e nada de projeto concretizado.

Em 2013 tudo mudou, o projeto, que nunca chegou a ser realizado, agora seria cancelado e dezenas de empresários perderiam seus investimentos e contratos com a empresa, um valor bilionário que nunca foi cumprido.

TEMPO INDETERMINADO

Em 2013 a empresa Suzano Papel e Celulose deixou de lado o projeto no Piauí. Era uma tarde quente de terça-feira do dia 12 de março, quando executivos da empresa decidiram deixar de lado a criação da fábrica no município de Palmeirais por motivos financeiros. O diretor da empresa à época, Jorge Cajazeira, afirmava que o projeto precisaria ser refeito.

O que Jorge não disse é que, na realidade, o projeto não saiu do papel por um erro das mudas fornecidas pela empresa para os produtores.

O Engenheiro Florestal, Elieser Neves, que prestou serviços para empresa Suzano, nos explicou o erro.

“As mudas que estavam sendo distribuídas através dos viveiros de Monsenhor Gil, foram desenvolvidas no Maranhão, onde o índice pluviométrico era diferente do nosso. Aqui chove diferente de lá em quantidades, e se a muda não está preparada para isso, dará menos metros cúbicos de madeira. E isso significa prejuízos para quem produz”.

Eliezer se referia à muda Clone MA-2000, criada pela Suzano Papel e Celulose no município de Urbano Santos no Estado do Maranhão. A verdade é que a muda criada nos locais com mais chuvas, não teria se adaptado ao clima do Piauí. A grande questão é que, o clone indicado e plantado pela própria Suzano, nunca foi indicado pela empresa como um dos fatores de seu fracasso, pelo contrário, eles sempre ocultaram esse ponto da história.

Outro ponto é que, devido ao erro onde as mudas produzem menos da metade do que se esperaria em madeira para cada metro cúbico, a Suzano resolveu não assumir seus erros, mas destruir o setor ambiental do Piauí. Segundo foi apurado por nossa equipe, em reuniões e simpósios pelo Brasil, a Suzano se refere ao Piauí como um estado onde não apenas chove pouco, mas de solo pobre para plantio, uma total inverdade sobre o estado.

TEM OU NÃO TEM DINHEIRO?

A empresa afirmava que a questão financeira internacional afetava a manutenção da página, é preciso saber que, mesmo depois de quase 14 anos o cenário não é mais o mesmo. Em entrevistas dadas à IstoÉ Dinheiro, publicada em 19 de Fevereiro de 2021, o atual presidente da Suzano, Walter Schalka, falou sobre os resultados recordes em lucros da empresa.

Somente em um ano, as ações de mercado da empresa foram de R$ 40,00 para exatos R$ 72,70, uma valorização de 80%. Só nos caixas operacionais, se gabou Schalka, a empresa lucrou 11, 5 bilhões em um ano, alta de 63% em relação ao ano de 2020.

Ainda em 2021, para mesma IstoÉ Dinheiro, em entrevista dada no dia 14 de junho, Walter Schalka, anunciou uma linha única de produção de celulose, no valor de R$ 14,7 bilhões e que promete ser a maior do mundo.

Enquanto isso no Piauí a empresa não pagou suas dívidas com empresários, como é o caso de Alexandre Tomás, que produziu em Gerumenha, município do Piauí, 5 milhões de mudas de eucalipto, perdendo lucros com outras mudas, por confiar na Suzano.

“Eles chegaram com uma ótima proposta, deixei de lado outras culturas de mudas, era a Suzano e por isso mesmo a confiança e a fé que botamos na projeto era grande”, afirmou Alexandre.

Para piorar, a empresa nunca explicou o que foi feito com os investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os incentivos fiscais do Governo do Estado, o que gerou dúvidas do Ministério Público do Estado (MPPI), como foi noticiado em 13 de março de 2013 no site G1 – Piauí.

Segundo a matéria, o promotor de justiça Fernando Ferreira dos Santos, pediu explicações ao secretário de fazenda do Estado da época, Antônio Silvano de Alencar Almeida, sobre todos os incentivos e quanto custaram, desde que foram concedidos à empresa Suzano, ainda em 2008.

RELAÇÕES PERIGOSAS

Apesar disso tudo, nada foi feito pelo governador Wellington Dias. Enquanto em 2013, Wilson Martins se irritava e tratava como um calote a suspensão da empresa no Piauí, nos governos posteriores de Wellington Dias e aliados, tudo mudou. Em 2018, Wellington Dias esteve em São Paulo e numa manhã nublada de 19 de fevereiro, se reuniu com o conselho diretor da empresa.

Na reunião tão pouco falada, Wellington Dias (PT), junto com sua esposa, a Deputada Federal pelo PT, Rejane Dias, se reuniram com o diretor de Assuntos Institucionais da época, Pablo Gimenez Machado, e o também diretor Jurídico da época, Carlos Eduardo Pivato Esteves, a portas fechadas mas com direito a fotos. A empresa prometeu que os acordos firmados seriam cumpridos e deixou claro ao governador que o investimento viria. Nada aconteceu e uma pá de cal foi jogado sobre a história.

Segundo o produtor e empresário agrícola Tiago Junqueira, que move ação milionária contra a Suzano, o governador tinha meios de fazer cumprir os contratos.

“Nós empresários lesados, nós reunimos varias vezes com o governador, inclusive tudo está em atas. Nessas reuniões discutimos formas jurídicas do estado que foi lesado pelos incentivos dados a Suzano e que nós sofremos, serem cumpridos. O governador dizia que levaria nossas demandas para a empresa, mas isso nunca aconteceu”.

UMA SAÍDA

Agora, os empresários se reúnem para, através de meios jurídicos, terem seus contratos cumpridos. Recentemente, uma audiência pública realizada em Regeneração – Piauí, uma das cidades mais lesadas com o suposto investimento da empresa Suzano. Municípios convocam a Suzano para explicarem o que aconteceu e se vão ou não ficar a ver navios, ou melhor, eucaliptos e dívidas.

A empresa prometia que, com seus investimentos, 15 mil empregos diretos e indiretos seriam gerados, o que gerou investimentos e incentivos fiscais de municípios que sonhavam em aumentar suas receitas e criar mão de obra para sua população. Sem a vinda da empresa, dezenas de investimentos feitos pelo poder público, literalmente se tornaram gastos inúteis e sem retorno.

Com a ausência de investimentos, as promessas de melhoria do IDH do estado apenas pioraram, pois o dinheiro alocado para facilitar o projeto da Suzano, foi retirado de outros setores e não teve nenhuma forma de estorno.

Comentando sobre o assunto, o vereador de Regeneração e um dos responsáveis pela audiência pública da câmara municipal da cidade, Samuel Oliveira, falou sobre o que se espera da tal empresa:

”A Suzano lesou o estado e os municípios, então uma empresa que assume ter um papel social, deveria ao menos criar um plano de indenização para quem foi prejudicado. Esse dinheiro que, vai além de cumprir contrato com produtor, é dinheiro que se entrasse para o erário público, significaria ter em caixa para investimentos em saúde e educação das pessoas.”

Outra saída além disso é a perca das certificações internacionais.

Em seu site oficial a empresa Suzano afirma que, suas ”certificações demonstram, em conjunto com outras iniciativas, o compromisso da Suzano com o desenvolvimento sustentável”. Só que a Suzano destruiu, não apenas o histórico do setor ambiental do Estado, mas fomentou uma parte da crise social que se abateu sobre este setor, já que perdas e danos causadas geraram bancarrotas e demissões, favorecendo o aumento geral da pobreza em um dos estados mais pobres do país.

Exemplo de certificação que pode ser posta em xeque da Suzano é a brasileira Cerflor e internacional Forest Stewardship Council, que prezam além do trabalho ambiental, o trabalho da empresa certificada no campo econômico e social da área desenvolvida.

O que não foi o caso do Piauí, o patinho feio que a Suzano tanto sonha esconder enquanto dezenas de investidores e gestores, tanto sonham um dia resolver.

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