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CADA VEZ MAIS PROVÁVEL UMA RECESSÃO MUNDIAL

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Os dados econômicos internacionais de ontem e de hoje indicam para uma retração da economia em vários países, e dão sinais cada vez mais nítidos de que haverá, sim, uma recessão mundial.

A par do que expus no último artigo (A fila de dominós da economia mundial), a respeito da curva de juros nos EUA (cujo quadro está se acentuando, com títulos públicos norte-americanos de curto prazo pagando mais do que os de longo prazo), os dados da produção industrial, das inflações na Europa e nas Américas, da atividade econômica em geral, o derretimento generalizado das bolsas de valores e mercados de ações ao redor do mundo, os apertos monetários adotados tardiamente pela maior parte dos Banco Centrais em vários países e a inércia de alguns em fazê-lo, fazem-me lembrar o velho ditado “pôr trinco em porta arrombada”.

Comecemos pelos EUA: na última reunião do FOMC a taxa de juros subiu +0,75%, o maior aumento de uma vez só desde 1994, atingindo a faixa de 1,5 a 1,75% a.a. e para a próxima reunião a maioria dos analistas espera outra subida de +0,75%. Com isso, os juros dos títulos públicos norte-americanos (os “treasuries”) subiram também, atraindo investidores institucionais do mundo inteiro por uma principal razão: segurança. A maior parte dos operadores e dos investidores de mercado está realmente de mau humor, “medo da recessão” é expressão frequentemente ouvida, e em troca de rendimentos baixos, mas certos, a grande maioria dos mercados está com aversão ao risco, fugindo de ativos mais rentáveis, mas não tão seguros. Isso quer dizer, os capitais estão migrando das bolsas de valores em direção aos títulos de renda fixa, especialmente dos EUA.

No Brasil, houve reunião do COPOM nas mesmas datas que houve a reunião do FOMC (14 e 15 de junho últimos), a meta da Taxa Selic subiu +0,5%, para 13,25% ao ano e ficou indicado na Ata publicada no dia 21 que haverá outro aumento na próxima reunião, nos dias 2 e 3 de agosto, de igual ou menor magnitude, ou seja, a Taxa Selic deve atingir 13,5 a 13,75% a.a. neste segundo semestre, para baixar e terminar 2022 em 13,25%. Contudo, o efeito anti-inflacionário da Taxa Selic não está revertendo de forma a tornar o real mais atrativo diante do dólar, primeiro pela aversão internacional ao risco e segundo pelas incertezas internas, sendo muito citado aqui os riscos fiscais, especialmente aqueles decorrentes dos esforços do Governo Federal em estabelecer limites para os altos preços dos combustíveis, desde o teto dos ICMS até o “vale-caminhoneiro”, que foi anunciado hoje.

No Reino Unido, o Banco Central da Inglaterra subiu a taxa básica de juros em +0,25% na última reunião, chegando agora a 1,25% a.a.. Os operadores riram, a subida suave dos juros parece não estar fazendo sequer cócegas na inflação britânica, que chegou a 9,1% a.a., altíssima para os padrões da libra esterlina, a maior desde março de 1982. Nesta última madrugada saíram os dados referentes à dívida líquida do setor público lá, que chegou a £ 13,23 bilhões, acima do projetado pelos mercados (£13,2 bilhões) e elevou a necessidade de financiamento por esse setor público para £12,024 bilhões – isso quer dizer que o Reino Unido terá que ampliar a emissão de títulos da dívida pública por lá, acima do que já está fazendo. Também saíram hoje os dados da produção industrial, que está caindo. Nesse quadro econômico britânico, rompeu uma ampla greve dos ferroviários, que contaminou outras categorias profissionais e fechou até o metrô de Londres e a perda de apoio de Boris Johnson dentro do Parlamento, ou seja, um quadro de instabilidade política e social. As perspectivas futuras não estão boas no Reino Unido…

Também os dados referentes às produções industriais da Alemanha, da França e da zona do euro como um todo despencaram, junto com os dados do setor de serviços – nesse quadro, o Banco Central Europeu ainda não mexeu na taxa básica de juros, que até agora está em 0%.

Nesse quadro internacional, o “capitão” do barco é, efetivamente, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que hoje falou ao Senado dos EUA, aos quais garantiu que a luta contra a inflação, que está em 8,6% a.a. lá, será “incondicional” e pior ainda: reconheceu que há o risco de recessão, o que foi um rastilho de pólvora nos mercados cambiais do mundo todo. Os diretores do Banco Central dos EUA falam em “pouso suave” da economia, ou seja, reduzir a atividade econômica de modo a “puxar” o índice geral de preços para baixo, mas enquanto estudioso constante dos mercados e das economias aqui e lá, nunca vi isso acontecer sem algum episódio traumático. Powell está tentando conduzir o combate à inflação entre uma possível disparada desta e o risco de uma recessão profunda. Por enquanto, o discurso dele e dos demais diretores do Fed vão no sentido de admitir que “sim, haverá recessão, mas que não será profunda”.

Na real: a subida da taxa de juros básica dos EUA em níveis mais altos do que imaginávamos há dois ou três meses atrás está golpeando duramente os mercados de ações, a atividade produtiva, o comércio e o câmbio, lá e no mundo todo, e esse é justamente o objetivo, para trazer os níveis gerais de preços para baixo. A cada reunião do FOMC em que houver mais aumento, a cada fala mais agressiva de Powell ou de quaisquer outros dos diretores do Fed, os mercados de ações e cambiais do mundo inteiro respondem com quedas mais ou menos intensas nas ações e demais ativos e derivativos, e subidas mais ou menos íngremes das taxas de câmbio.

E é o que estamos vendo aqui no Brasil.

Hoje (23 de junho) o Ibovespa fechou em queda de -1,45%, aos 98.080 pontos. No ano, o Ibovespa acumula agora perda de -5,62%. O dólar, no exato momento em que escrevo, está em alta de +0,87%, aos R$ 5,24 e no ano acumula queda de -5,92% (por enquanto).

A perspectiva, aqui no Brasil, também não é das melhores. A ver os próximos passos que Roberto Campos Neto e Paulo Guedes darão, um na condução da política monetária e o outro na condução da política fiscal e da economia como um todo. A nossa taxa básica de juros já estava subindo muito antes dos demais bancos centrais estrangeiros começarem a subir as respectivas, já estamos chegando no “voo de cruzeiro”, como mencionei acima, deve haver mais uma alta (no máximo 13,75% a.a.) e depois uma queda, mantendo 13,25% a.a.. no fim deste ano. Se esse nível será suficiente para o combate à inflação aqui, poderemos ter uma ideia já no começo de julho: O IPCA já apresentou uma curva para baixo, maior até do que era previsto pelos mercados: em maio a inflação oficial prevista era de 0,6%, veio 0,47% e no acumulado em 12 meses caiu, de 12,13% para 11,73%. A maior parte dos analistas e calculistas (inclusive eu) aponta que daqui para diante a trajetória deve ser de queda, sendo esperados 11,6% para o mês de junho e 11,16% para o mês de julho.

Mais adiante, se a cada vez mais provável recessão mundial vai ou não se instalar aqui, só saberemos lá pelo 1º trimestre de 2023.

Artigo: Fabio Talhari – @fabiotalhari

Twitter: https://twitter.com/FabioTalhari?s=20&t=sIXg7UYNsh98SYO7I9i-Pw

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