Ciência
Laboratório em Pequim mapeou coronavírus duas semanas antes dos primeiros casos serem revelados pelo Governo Chinês
Cientistas chineses identificaram e mapearam o vírus responsável pela Covid-19 no final de dezembro de 2019, aproximadamente duas semanas antes de Pequim divulgar informações detalhadas sobre o vírus ao resto do mundo, revelaram pesquisadores do Congresso Americano. Essa nova descoberta trás sobre aos institutos de pesquisa da China e seu governo, duvidas e críticas se estes sabiam dos perigos e possíveis desdobramentos do vírus durante o momento mais importante para alertar o mundo e criar protocolos de saúde da doença, seu inicio.
Documentos obtidos pelo comitê da Câmara dos EUA e divulgados pelos jornalista especialista em inteligência de espionagem e segurança interna, Warren P. Strobel e Michael R. Gordon, para o The Wall Street Journal, hoje (17), indicam que, em 28 de dezembro de 2019, um pesquisador chinês em Pequim carregou uma sequência quase completa da estrutura do vírus em um banco de dados administrado pelo governo dos EUA.
Durante a época coberta pelos dados revelados, as autoridades chinesas ainda se referiam publicamente ao surto em Wuhan como uma pneumonia viral de “causa desconhecida”, e o Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, onde ocorreu um dos primeiros surtos de Covid-19, ainda permanecia aberto, apesar do conhecimento do vírus e do surto.
De acordo com os cronogramas do governo dos EUA em relação à pandemia, a China compartilhou a sequência do vírus com a Organização Mundial da Saúde apenas em 11 de janeiro de 2020.
As recentes informações não fornecem uma resposta definitiva ao debate sobre se a Covid-19 teve origem em um animal infectado ou em uma fuga de laboratório. No entanto, indicam que ainda não dispomos de um relato abrangente sobre a origem da pandemia.
Dra. Lili Ren, pesquisadora chinesa que disponibilizou a sequência do vírus, não forneceu comentários em resposta a um e-mail sobre fatos referentes ao vírus. Ela está vinculada ao Instituto de Biologia de Patógenos, localizado em Pequim, o qual faz parte da Academia Chinesa de Ciências Médicas, uma instituição afiliada ao Governo Chinês.
Segundo epidemiologistas e virologistas ouvidos, os dias perdidos por falta de transparência da China poderiam ter tido um papel crucial em auxiliar a comunidade médica internacional na identificação da propagação da Covid-19, no desenvolvimento de medidas de defesa médica e no início do processo de criação de uma eventual vacina.
A doença que matou e deixou sequelas em milhões de pessoas, ainda no final de 2019 era uma incógnita para cientistas das área médicas, genética e virologia e governos ao redor do mundo, todos em uma corrida para compreender a natureza da nova doença até então desconhecida.
Ao ser ouvido, Jesse Bloom, virologista do Fred Hutchinson Cancer Center, em Seattle, que revisou os documentos e a sequência genética recentemente descoberta, destacou os males da falta de clareza chinesa.
“Isso destaca a importância de sermos cautelosos quanto à precisão das informações divulgadas pelo governo chinês”, disse Bloom.
As informações foram adquiridas pelos membros do partido Republicano no Comitê de Energia e Comércio da Câmara obtiveram documentos que descrevem um novo cronograma, após o comitê ameaçar intimar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS – Health and Human Services). Ainda no mês passado, Melanie Egorin, secretária assistente de legislação do HHS, comunicou à presidente do comitê, deputada Cathy McMorris Rodgers, que a pesquisadora chinesa, Dra. Ren, enviou a sequência do vírus em 28 de dezembro de 2019 para um banco de dados genético, GenBank, administrado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
Apesar disso, segundo a OMS, a primeira divulgação registrada da sequência do vírus Covi-19, ocorreu apenas em 11 de janeiro de 2020, após as autoridades chinesas compartilharem a informação com a OMS. Além disso, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta afirmam que a sequência do vírus foi compartilhada na China com o equivalente chinês do CDC em 5 de janeiro, contudo, não foi divulgada aos cientistas de fora do país.
Chinese Center for Disease Control and Prevention. Pequim, China.
“O compartilhamento destes dados na base de de informações viral e genética, evidencia que, de fato, pelo menos até o dia 28 de dezembro de 2019, os cientistas na China estavam cientes de que essa pneumonia estava sendo causada por um novo coronavírus e não por uma ‘pneumonia'”, disse Bloom.
O relatório ressaltou ainda que especialistas chineses se encontraram com representantes da Organização Mundial da Saúde em Pequim em 3 de janeiro de 2020, apesar disso, não revelaram que a nova doença era causada por um coronavírus, informação que as autoridades chinesas já sabiam uma semana antes.