OPINIÃO
Pregando Para Ninguém: Manifestações de 10 de Dezembro Atestam o Enfraquecimento da Direita
Ontem, foi um belo domingo (10). O céu de Brasília estava azul, e o tempo razoavelmente quente. A única coisa realmente fria no meio daqueles quase 32°C era a água que três senhoras educadas vendiam por R$ 4,50, e o ânimo da massa que chegava às 10 horas, já vestindo seus acessórios padrões em verde e amarelo, para compor o cenário da Esplanada dos Ministérios.
Alguns estavam ali após caírem de paraquedas, souberam do evento quase quando havia começado e chegavam meio que às pressas com cartazes e bandeiras do Brasil. De fato, soube do ato por um amigo, pois não havia visto nada em redes sociais, e a movimentação midiática dos deputados e senadores de direita parece ter sido quase nada ou nula.
O motivo da manifestação era, para todos os efeitos, nobre. Estavam ali para manifestar contra a indicação do atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas quase 3 horas de evento, o público não se alterou, apenas diminuiu ao ponto de os organizadores encerrarem para evitar a vergonha maior que a mídia mainstream replicaria e que ocorreu hoje: Não apareceu ninguém.
Muito me assustou o fato da manifestação estar vazia, fato que percebo cada vez mais em eventos conservadores de rua que frequento. Mesmo contando com a presença de políticos do calibre do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) e do senador Magno Malta (PL-ES), o evento não emplacou, ou como disse um jovem que filmava o evento, “flopou”. O que deixou claro um enfraquecimento político em convocar o povo às ruas.
Em parte, a culpa é de intrigas internas e ego inflado que tornam nossa classe de famosos eleitos incapazes de pedirem um simples favor para influenciadores em ascensão e jornalistas exilados, por medo de perderem o protagonismo político ou para simplesmente não se “misturarem” com aqueles que são repudiados por Alexandre de Moraes. Infelizmente, para esses mesmos políticos e por culpa destes, a dramaturgia conservadora parece estar por terminar. E de nada adianta ser protagonista de peça nenhuma.
Exemplos não me furtam à memória desses renegados e que muito poderiam contribuir para que a massa hoje dispersa pudesse se reunir como militância orgânica e participativa, para pelo menos ser capaz de lotar uma praça. Ainda no auge da perseguição do STF àqueles falsamente atribuídos como terroristas por vestirem a camisa da Seleção Brasileira, Oswaldo Eustáquio e Marcos Antônio Gomes, Zé Trovão, mesmo exilados no México, conseguiram convocar mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de Brasília. Esdras dos Santos, hoje exilado nos Estados Unidos, colocou mais de 100 mil pessoas nas ruas de Belo Horizonte, e Allan dos Santos conseguiu convocar quase 500 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo.
Todos estes e outros, com suas páginas em redes sociais, que usam sua influência de forma gratuita para apoiar o Bolsonarismo e as ideias da direita, parecem não receber o devido reconhecimento que um dia deram para aqueles que nunca mereceram, como Frotas e Joices da vida. Nem mesmo um único e simples “muito obrigado”.
Em todos os casos, jornalistas e influenciadores conseguiram inflamar a massa, sem baderna, sem gastos e principalmente sem cargos eletivos, apenas com suas vozes nas redes sociais, para atos legítimos e democráticos. Agora, abandonados à própria sorte, por uma direita eleita que eles tanto lutaram, elegeram e por ela perderam tudo, suas vozes continuam sendo silenciadas por uma suprema corte despótica e com a cortesia audaz de deputados e senadores. Se eles soubessem o quanto fazem falta em megafones do alto de trios elétricos de onde gritavam por um país que nasceu fundado na liberdade, mas que ousou esquecer deste fato.